INTRODUÇÃO
Optar pela cirurgia bariátrica não é apenas tomar uma decisão médica. É um divisor de águas na vida de quem carrega, além do excesso de peso, uma história marcada por tentativas, frustrações, julgamentos e dores emocionais.
É justamente por isso que a avaliação psicológica não deve ser vista como uma mera etapa burocrática para “liberar a cirurgia”. Ela é, na verdade, um processo de investigação profunda, acolhimento e preparação emocional — uma espécie de ensaio consciente para tudo o que virá após a cirurgia.
Mais do que fornecer um laudo, meu papel como psicóloga é caminhar com você nesse início de jornada e te ajudar a construir as bases internas que sustentarão seu processo de transformação.
O QUE É A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA BARIÁTRICA?
É um processo clínico que visa compreender:
- sua história emocional e comportamental com a comida, o corpo e as relações;
- como você lida com frustrações, impulsos, autocobrança e mudanças;
- quais são suas expectativas reais com a cirurgia — e se há idealizações ou fantasias que podem gerar sofrimento;
- e, principalmente, se há recursos emocionais internos e rede de apoio para sustentar as mudanças que virão.
Essa avaliação envolve em diversos encontros, nos quais trabalhamos com entrevistas clínicas, testes psicológicos (quando necessários) e reflexões guiadas. Cada sessão é uma oportunidade de se conhecer, reconhecer padrões e começar a elaborar o que precisa ser transformado internamente.
A MENTE PRECISA OPERAR ANTES DO CORPO
O que muitos pacientes não sabem é que o sucesso do pós-operatório depende, em grande parte, de como a mente foi preparada antes.
A cirurgia atua sobre o estômago — mas quem define o que, como e por que comemos… é a mente.
Mudar hábitos alimentares, reconfigurar a imagem corporal, lidar com restrições, aprender novos limites, sustentar a disciplina e construir uma nova relação consigo mesma(o) exige mais do que força de vontade: exige consciência emocional e maturidade psíquica.
Muitos pacientes, ao não passarem por essa preparação interna, se deparam com sentimentos como:
- culpa por “ainda não se sentir feliz”, mesmo após emagrecer;
- luto pela perda do corpo antigo (sim, isso é real!);
- deslocamento social (mudanças nas relações familiares, afetivas e profissionais);
- transferências emocionais (trocar a compulsão alimentar por outras formas de compensação: compras, álcool, relacionamentos).
Tudo isso pode ser amenizado — ou até evitado — quando há uma escuta prévia, um espaço seguro para elaboração emocional antes da cirurgia. Por isso, a avaliação é também o início do seu tratamento emocional.
O QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTES DE INICIAR
- Você não está sendo julgada(o), está sendo cuidada(o).
Não se trata de “passar ou reprovar”, mas de entender como você pode se fortalecer emocionalmente para a transformação que deseja. - O laudo é o fim de uma etapa, não o fim do cuidado.
Ele é apenas o fechamento de um processo de autoconhecimento que pode — e muitas vezes deve — continuar no pós-operatório. - Você vai ser escutada(o) por inteiro.
Seu sofrimento, suas conquistas, suas inseguranças, seus medos, sua história com o corpo… tudo isso será acolhido com responsabilidade e ética. - Quanto mais sincero for o processo, mais útil ele será para você.
Evite “responder o que acha certo”. Traga sua verdade. É ela que precisa ser olhada com carinho, não camuflada.
CONCLUSÃO
A avaliação psicológica para cirurgia bariátrica é, antes de tudo, um cuidado com a sua história emocional.
Ela não serve apenas para gerar um documento, mas para oferecer um espaço de escuta onde você possa refletir, se fortalecer e se preparar para uma transformação real — de dentro para fora.
Seu corpo pode até mudar em poucas horas. Mas sua relação com ele, com a comida e com suas emoções é construída todos os dias.
E você não precisa fazer isso sozinha(o). Eu estou aqui para caminhar com você, desde o primeiro passo — com responsabilidade, empatia e um olhar que vai além do número na balança.